10/07/2008

ACTIVISTAS DA GREENPEACE "INVADEM" SUPERMERCADO EM LISBOA 25-06-2008 Lusa


"Lista vermelha" de peixes em extinção

Activistas da Greenpeace "invadem" supermercado em Lisboa

Um grupo de activistas da Greenpeace Portugal invadiu hoje o supermercado das Amoreiras, Lisboa, para distribuir pelos consumidores e vendedores uma "lista vermelha de peixes" em vias de extinção e que - aconselham os ecologistas - não devem ser vendidos ou comprados.

A acção foi preparada em segredo, como é hábito da organização, tendo sido marcado um ponto de encontro com os jornalistas, que só uma hora antes foram informados do local e do tipo de acção programada.

"A escolha do supermercado foi aleatória, apenas tivemos em conta que era um dos espaços que vende quase todas as espécies de peixe que constam da lista", explicou o porta-voz da Greenpeace Portugal, Evandro Oliveira.

A chegada às Amoreiras foi feita em transportes separados, para que o grupo não pudesse ser identificado pelos seguranças e responsáveis do espaço comercial, tendo os activistas entrado no supermercado sem qualquer identificação.

Às 13h10, conforme combinado, vestiram os coletes da Greenpeace, começaram a distribuir as brochuras que descrevem as 15 espécies que não devem ser vendidas nem compradas e conversaram com as vendedoras, os consumidores e os responsáveis do grupo de supermercados Auchan.

"Sabe como são capturadas estas espécies? Sabe que não deviam vender salmão, pescada ou bacalhau?", perguntou a activista Beatriz Carvalho à vendedora da banca do peixe, que respondeu saber apenas o que vem nas etiquetas e desconhecer que algumas das espécies que vende estão em vias de extinção.

Das 15 espécies que constam da "lista vermelha" estão alguns dos peixes mais preferidos dos portugueses: bacalhau do Atlântico, atuns, camarões, espadarte, linguado europeu, peixe-espada branco, pescadas, raias, salmão do Atlântico, solha americana, tamboris e tubarões. A resposta da vendedora é a mesma dos consumidores abordados no supermercado pelos activistas: os únicos critérios da compra do peixe são o gosto e o preço. "Não penso na proveniência, é verdade. Mas acho bem alertarem-nos para isto. Vou ler com atenção o folheto e ter mais atenção no futuro", disse Cristina Sampaio, que se deslocava à banca do peixe para fazer as compras da semana.

O grupo de 10 activistas, a que se juntaram redactores, fotógrafos e os operadores de imagem, foi rapidamente identificado pelos seguranças do supermercado que, num primeiro momento, tentaram impedir a recolha de imagem, alegando necessitar de autorização. No entanto, o 'manager' do Auchan, Carlos Fluza, acabou por dar a autorização necessária e mostrou abertura para conversar com os activistas, embora demonstrasse que gostava de ser antecipadamente avisado de acções daquele género. "Diga-me então que espécies vendemos aqui que estão em vias de extinção?", questionou Carlos Fluza, mostrando interesse pela informação prestada pelos activistas.

A Greenpeace enviou em Maio passado questionários aos grandes supermercados a solicitar informação sobre o peixe vendido, nomeadamente as políticas de compra e comercialização, incluindo o tipo de dados disponibilizados aos consumidores sobre as capturas. "Até hoje ninguém nos respondeu, incluindo o Auchan", afirmou Evandro Oliveira, que diz que a organização vai insistir nessa resposta e ameaça "agravar as acções" se os supermercados forem resistentes ao diálogo.

Mas Evandro Oliveira diz ter ficado "muito surpreendido" com a abertura dos responsáveis do supermercado, das vendedoras do peixe e até dos consumidores: "Esta acção já foi feita em outros países pela Greenpeace, mas aqui correu muito bem. Fiquei muito surpreendido".

Os peixes que constam da "lista vermelha" têm sérios riscos de serem provenientes de pescas ou viveiros insustentáveis, segundo a Greenpeace, que diz ter sido feita uma investigação pelos cientistas da organização.

O bacalhau do Atlântico é classificado como "vermelho" devido à situação de sobrepesca e ainda à pesca com redes de arrasto de profundidade, que tem grande impacto no fundo do mar.

Quanto ao camarão, a organização diz que por cada quilo capturado pelo menos 10 quilos de outras espécies são atiradas ao mar mortas ou moribundas, algumas das quais tartarugas em vias de extinção.

"Os supermercados têm o poder de gerar a procura de peixe sustentável e de mudar a oferta aos consumidores. Só desta forma podemos garantir que os oceanos não são destruídos e que vamos ter peixe nas próximas gerações", concluiu Beatriz Carvalho.